domingo, 28 de setembro de 2008

Vinho de rosas

Suicídios faziam parte da rotina da jovem médica daquele hospital. Não era uma rotina normal e invejável, mas sentia-se satisfeita em salvar vidas emocionalmente destruídas, embora sua vida pessoal fosse um grande fracasso do qual não conseguia se salvar, fazendo-a se sentir impotente diante de seus pacientes. Nem mesmo as doses duplas de seus remédios, acompanhados de qualquer bebida barata traziam-lhe qualquer coisa parecida com "conforto", então preferia perder totalmente a lucidez.
Dirigia-se ao quarto 113 onde mais uma paciente prometia acabar com sua própria vida. Abrindo a porta, deparou-se com uma adolescente sentada em um dos cantos do quarto, sob seu colo, uma arma calibre 38. Percebera que mais uma vez a segurança do hospital foi falha e irritou-se com o fato de sempre ter que consertar o erro dos outros. Sua primeira ação deveria ser retirar a arma daquelas pequenas mãos. Sentou-se ao lado da adolescente, que continuou olhando a parede diante delas.
-O que vistes fazer aqui?
-Cumprir com meu dever de médica e ajudar-te a se salvar.
A paciente riu da médica e a encarou. A médica pode perceber que a adolescente possuía os mesmos olhos daquele que lhe causara todos os problemas que vivia fora daquele hospital. Fitava aqueles olhos quando foi surpreendida pela mão da paciente segurando a sua.
-Não consegues salvar-te a ti mesma, como poderia me salvar?
-És jovem, tens uma vida inteira para construir...
-Não sou do tipo que aproveita a vida. Sou diferente de ti que perdes a lucidez na procura de resolver os problemas. Sabes qual a única coisa que temos em comum?
-O que sabes sobre minha vida para falar assim de mim?
-Vocês médicos se acham tão espertos, todos com essa mesma conversa de aproveitar a vida. Um blefe. Sabes o que temos em comum? Ambas não suportamos mais a vida, atingimos nosso limite, se passarmos dele há apenas o nada. Ao invés de guardarmos nossas vidas para que elas envelheçam, percam a acidez e se tornem valiosas, nós a bebemos. Tu a bebes aos goles, desperdiça algumas gotas com essas drogas que insistes em acreditar que resolverão alguma coisa, eu encho o copo e bebo tudo de uma vez, assim não sinto minha lucidez indo embora a cada gole e não tenho tempo de pressentir a ressaca.
A médica levantou-se, temia o rumo que a conversa tomava e sabia que estava ela tornando-se a paciente. Seus pensamentos foram mais uma vez interrompidos pela fala da adolescente.
-Quero rosas vermelhas em meu velório.
-Eu não estarei mais aqui em teu velório, já terei morrido por algum problema causado pela minha velhice.
-Rosas vermelhas são sangue, por isso as quero. Já percebestes que rosas mortas e sangue coagulado possuem a mesma tonalidade? Quando vivos, ambos são quentes e exalam um cheiro doce, quando mortos são repugnantes, assim como o vinho quando passa do tempo de ser bebido.
-Estas ignorando o que te digo?
-Sinto tua impaciência de não conseguir tirar-me a arma. - A adolescente colocou-se de pé em frente a médica e a estendeu a arma. - Toma, veja até onde consegues chegar. Quero saber se és capaz de beber o que sobra na garrafa. Quero ver se consegues beber tudo sem cair no chão. Bom que tenhas vindo, não tem graça beber sozinha, não é mesmo?
-Não.
Pegou a arma, sentia-se satisfeita em conseguir desempenhar tão bem seu trabalho. Esboçou um sorriso, foi quando sentiu sua paciente a abraçando violentamente. Abraçou-a da mesma forma, sentia a paciente como uma parte perdida de si mesma.
Primeiro ouviu-se o barulho ensurdecedor do silêncio, depois vieram as lágrimas, depois mais nada. Era apenas um corpo, e uma rosa.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Vinte de Setembro, O precursor da Liberdade

Logo que passa agosto, o mês mais temido do ano (apesar das sugestões de Caio Fernando Abreu para atravessar ele), chegamos em setembro, mês onde ironicamente comemoramos a Independência do Brasil e a Revolução Farroupilha, o maior marco da história gaúcha mesmo sem ter atingido seus objetivos. Muitos consideram o Tratado de Poncho Verde como o acordo de derrota farroupilha, pois não vencemos a revolução, continuamos pertencentes ao Império e teve fim a República Rio-Grandense. Mas até onde nossa idealizada República Rio-Grandense acabou e até onde perdemos a Revolução?
Não são poucos os costumes que nos diferenciam do resto do país, desde nossa alimentação a base de carne (diferente do resto do país que é invadido por uma febre de vegetarianismo), nosso jeito de falar e sentimentalismo e orgulho exacerbado deste chão. Somos o povo que divide a cuia com estranhos, que canta o hino do estado com emoção, que chora com seu time, seja o Grêmio ou o Internacional, somos o povo que sofre mas não se cala, o povo que luta por liberdade, igualdade e humanidade, somos diferentes e somos tratados diferentes. Somos pertencentes a República Rio-Grandense, mais forte do que nunca!
Não conseguimos nos tornar independentes, não ganhamos, mas também não fomos vencidos. Nos orgulhemos de termos lutado, afirmando assim nosso espírito guerreiro e revolucionário, diferente da maioria dos demais estados que suportaram tudo calados. Graças a Revolução Farroupilha, nasce no peito de cada gaúcho a revolução e o desejo de mudança.
Seja maragato, seja chimango, somos gaúchos, comemoremos então o 20 de setembro, o nosso dia. Lotemos nossos CTGs, aproveitemos a oportunidade e façamos churrasco e carreteiro de charque, ícones de nossa cultura e façamos também um mate e admiremos o nosso céu que é sempre o mais azul. E principalmente, tenhamos orgulho de nossas façanhas, afinal, em nossas 'veias corre o sangue herói de farrapo'.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A máquina de brincar de Deus

Entrará amanhã (dia 10), na fronteira da França com a Suíça o LHC, o Grande Colisor de Hádrons. Superando todos seus antepassados, o LHC promete, entre outros itens, provar a teoria do Big Bang, ou seja, que nascemos mesmo de uma grande explosão.
Até aí tudo bem, seria um grande avanço para a ciência, mas até onde ele realmente nos trará avanços? Não são poucos os físicos e químicos que se colocam contra o funcionamento do LHC, seja pelas alegações de risco de grandes catastrofes, seja por mera inveja da CERN mais uma vez superar qualquer liga de ciêntistas.
São várias as possíveis catástrofes que podem ocorrer quando tal máquina for ligada. Uma delas é que pode surgir um buraco negro, que acabaria por 'engolir' a Terra, também há os que defendem que possa gerar uma matéria estranha que converterá o planeta em matéria estranha. Já os químicos acreditam que, assim como o sol foi gerado através da colisão de dois prótons, uma nova colisão entre eles possa gerar um novo sol, que se expandirá rompendo as barreiras criadas pela CERN e atingiria em poucos segundos uma dimensão trilhões de vezes maior que a Terra.
Porém, assim como muitos, creio que a pior catástrofe poderá acontecer se for provado mesmo que nascemos de uma grande explosão, acabando assim com todos os dogmas da Igreja, o que certamente gerará uma Terceira Guerra Mundial. Sabemos o poder bélico que grandes potências mundiais possuem, sendo assim, morreriamos por nossas próprias mãos.
Não tenho um porquê para acreditar nos físicos da CERN (mesmo sabendo que ali estão os melhores do ramo), assim como não tenho um porquê para acreditar que Deus existe e que nos salvará ou se ofenderá, talvez seja pelo fato de eu não ter uma explicação científica para sua existência (irônico, não?), apesar de Eistein quase ter me convencido quando li A Fórmula de Deus, a questão é que não confio que nenhum desses Deuses possa nos salvar de nós mesmos.
Enfim, amanhã será mais um dia para 'o fim do mundo', nos resta saber se esse será o último.

"As ciências, cada uma puxando para seu próprio lado, nos causaram poucos danos até agora, mas algum dia a junção das peças do conhecimento disperso descortinará visões tão terríveis da realidade e de nossa pavorosa posição dentro dela que só nos restará enlouquecer"
H.P.Lovecraft

Página oficial: http://lhc.web.cern.ch/lhc/